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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Entrevista com Tuomas Holopainen


Nightwish.
Esquecendo os problemas com Tarja
Por Thiago Sarkis 

A primeira década do novo milênio reservou ao Nightwish os momentos mais extremos de sua carreira: entre a perturbação e o sucesso, o escândalo público e o reconhecimento artístico, o céu e o inferno. Nesse período, o grupo finlandês chegou ao topo do mundo com o álbum Once (2004) para pouco depois desabar com a conturbada e polemica saída de sua ex-vocalista, Tarja Turunen. O disco seguinte, Dark Passion Play (2007) – como não poderia deixar de ser –, além de apresentar a nova voz do conjunto, Anette Olzon, expôs, de forma sombria e pesada, as cicatrizes deixadas pela traumática separação seguida da alta exposição e pressão sobre os músicos. Apesar das vicissitudes, o trabalho conquistou os fãs, dando ao quinteto paz para criar o próximo registro de estúdio. Quatro anos depois, chega ao mercado Imaginaerum (2011), projeto audacioso de quase 8 milhões de reais de uma trilha sonora aliada a um filme idealizado por Tuomas Holopainen (teclados) e roteirizado pelo diretor de cinema e animação Stope Harju. Iniciando a turnê do mais recente álbum, Tuomas conversou conosco, deu mais detalhes do grandioso lançamento e do longa-metragem que está por vir, comentou Dark Passion Play e Angels Fall First (1997), falou dos planos futuros e garantiu: os problemas com Tarja são coisas do passado. 
A primeira coisa que me vem à cabeça quando ouço material novo do Nightwish é: ‘Isso deve ter dado trabalho’. Então, conte-nos como foi trabalhar em Imaginaerum.
Tuomas: (rindo) Certamente, dá muito trabalho compor e desenvolver o material do Nightwish. Comecei a me centrar em idéias para Imaginaerum em meados de 2007, logo após finalizarmos as gravações de Dark Passion Play. Já naquela época eu sabia que no próximo disco precisaríamos avançar um pouco e inovar. Não dava para repetir a fórmula daquele álbum. Então, logo de inicio pensei em transformar as músicas do registro seguinte em pequenos curtas-metragens, com roteiros bem definidos. Com esse objetivo firmado, escrevi treze pequenas histórias e compus a trilha sonora para cada uma dessas histórias. No entanto, na medida em que fomos trabalhando, decidimos fazer um longa-metragem ao invés dos curtas originalmente planejados. Não foi um processo difícil e problemático, mas houve obstáculos e demorou muito para ser finalizado. Ficamos em estúdio por dez meses e passamos cerca de noventa dias ensaiando tudo. 
Você sempre aparece como o principal compositor do Nightwish. No entanto, Imaginaerum chama a atenção por contar com ainda menos contribuições de seus companheiros de banda do que em registros anteriores. Por que isso ocorreu?
Tuomas: Realmente, quase todas as músicas desse álbum foram compostas por mim. Apenas a décima faixa, The Crow, The Owl And The Dove, teve colaboração do nosso baixista Marco Hietala. E na faixa titulo tive a ajuda de Pip Williams nos arranjos. De qualquer forma, a verdade é que durante o processo de composição eu cheguei a pedir músicas e idéias a meus companheiros de banda. No entanto, eles estavam exauridos. Nosso guitarrista, Emppu Vuorinen, por exemplo, me disse que não queria tocar guitarra por alguns meses e que não gostaria de escrever qualquer material para o novo álbum. Ele estava acabado após a turnê. Porém, foi só um momento. É totalmente possível que haja novamente mais participação deles em lançamentos futuros. Imaginaerum, no entanto, foi desse jeito. 

A falta de seus companheiros no processo de composição dificultou as coisas para você?

Tuomas: Não. Acho que foi até mais fácil. Tenho o costume de trabalhar sozinho e consigo desenvolver minhas idéias com tranqüilidade assim. É bom contar com a colaboração deles, mas quando isso não é possível, não vejo problemas. Felizmente, eles me parecem gostar muito da maioria das coisas que eu crio. Sempre há alguma discordância, mas lidamos com isso sem maiores dificuldades. O Nightwish é uma banda e todos são ouvidos aqui. Não lido com isso como se fosse o meu projeto solo, pois sei que eu jamais faria o que fazemos sem eles. Esses caras ensaiaram e trabalharam muito nessas músicas, ainda que não as tenham escrito. 

Por falar nisso, como você pensa que um álbum solo seu soaria? Muito diferente do Nightwish?
Tuomas: Não tive muito tempo para pensar nisso ainda, porque felizmente o Nightwish tem suprido todas as minhas ambições musicais até agora. Se eu quiser fazer uma música bem Metal, posso fazê-la com o Nightwish. Se eu optar por uma balada, também não encontrarei obstáculos dentro do nosso estilo. Um Jazz como Slow, Love, Slow, que vocês ouvem no novo álbum igualmente caí bem para nós. Então, não há motivação para eu seguir uma trajetória solo. De qualquer forma, penso que se um dia eu partir para uma carreira solo, definitivamente trabalharei com trilhas sonoras. 

Vocês decidiram gravar os instrumentos rítmicos separados da orquestra. Por que e como isso funcionou?
Tuomas: Acho que a idéia inicial de trabalharmos assim surgiu em decorrência dos custos do álbum. Dark Passion Play foi um álbum ridiculamente caro e tentamos economizar um pouco em Imaginaerum. Gravar os instrumentos rítmicos separados da orquestra possibilitou que gastássemos menos com estúdio. Marco e Emppu têm pequenos estúdios em suas casas e podem gravar suas partes por lá mesmo, sem que geremos custos adicionais ao Nightwish. É também mais relaxante e tranqüilo para eles dessa forma. 

Vocês tentaram economizar? Pensei que Imaginaerum tivesse sido infinitamente mais caro que Dark Passion Play, afinal, ele resultou em um álbum e um filme.
Tuomas: Imaginaerum acabou ficando um pouco mais barato que o disco anterior. Dark Passion Play nos custou 550 mil euros (N.R.: 1 milhão e 240 mil reais) e Imaginaerum fechou em 350 mil euros (N.R.: cerca de 790 mil reais). Então, conseguimos economizar um pouco no álbum para investirmos no filme. Porém, o longa-metragem nos custou o olho da cara. No total, gastamos cerca de 3 milhões e 500 mil euros (N.R.: aproximandamente 7 milhões e 900 mil reais), dos quais a banda pagou 1 milhão de euros (N.R.: mais ou menos 2 milhões e 260 mil reais). Enfim, você tem razão. Os dois lançamentos somados – o filme e o álbum Imaginaerum – são certamente o projeto mais caro no qual já trabalhamos. 

É um investimento elevado e que você mesmo classificou como de alto risco.
Tuomas: Com certeza, mas nós sempre assumimos esse tipo de risco. Vale a pena investir nisso, pois só assim podemos levar nossas idéias a cabo. Queríamos muito fazer esse filme e é claro que ele acabou se tornando um enorme risco financeiro para nós. No entanto, se você não acreditar em si mesmo e não seguir seus instintos, não poderá se orgulhar do que criou. Colocamos muito dinheiro nosso nisso, mas também não arriscamos tudo. Ninguém ficará sem teto caso as pessoas não assistam ao filme (risos). 

Há algum tempo atrás, li uma entrevista com Ewo Pohjola, empresário do Nightwish, em que ele falava que nutria uma expectativa particular de que o novo álbum da banda vendesse mais que Dark Passion Play. Como têm sido os resultados até agora?

Tuomas: O disco tem ido muito bem nas paradas de sucesso e está vendendo como esperávamos. No entanto, acho improvável que supere os números que alcançamos com Dark Passion Play. À medida que a tecnologia e a internet avançam, fica mais e mais difícil vender discos. Os downloads estão dominando o mercado musical. Apesar disso, nossos fãs, assim como os fãs de Metal em geral, são mais féis e gostam de ter o álbum com encarte, arte gráfica e letras nas mãos. Logo, mesmo com essa situação, ainda é possível vender uma boa quantidade de discos. 

Para onde você acha que vamos com essa situação dos downloads?
Tuomas: Acho que cada vez mais os lançamentos musicais ficarão concentrados na internet. Não adianta, o produto físico tem perdido espaço e nós simplesmente temos que nos acostumar com isso e encontrar novas saídas. Não dá para sentar em um canto e chorar porque a internet está acabando com o mercado da música como conhecíamos. É importante apenas que encontremos vias de garantir que quem trabalha com isso receba o pagamento pelo trabalho que fez. Só assim nós, músicos, podemos continuar fazendo álbuns. Acho, no entanto, que o CD não sobreviverá. Talvez ele se torne algo como o vinil, que hoje vende muito bem, por sinal. O DVD também não durará para sempre. 

Por falar em internet, parece que o Nightwish teve alguns problemas com a Amazon após a loja liberar trechos de Imaginaerum online antes do tempo programado por vocês para apresentarem o disco aos fãs. Como foi isso?
Tuomas: Estou sendo honesto com você... Ainda não sei exatamente como isso aconteceu. Recebi milhares de pedidos de desculpas deles dizendo que houve um mal-entendido e que eles tinham obtido uma informação de que não haveria problema se a Amazon colocasse o material online na data em que colocaram e blá-blá-blá. Não importa. O que sei é que fiquei muito chateado e a razão é simples: vínhamos trabalhando no álbum por quatro anos e aí, quando finalmente decidimos lançá-lo, estabelecemos uma data para isso e evidentemente esperávamos que as pessoas ouvissem o disco pela primeira vez na data em que programamos. Quando alguém libera esse material na internet antes da hora, acaba com o mistério e a expectativa que criamos. Isso nos incomoda muito. 

A história de Imaginaerum se concentra na vida de um compositor em seu leito de morte. O que fez com que você se envolvesse e trabalhasse com esse tema?
Tuomas: Há um aspecto curioso em Imaginaerum. De fato o filme é baseado nessa história, mas o disco não. O álbum é mais temático que conceitual e nós queríamos que cada um dos novos lançamentos seguisse um percurso. Queríamos que eles fossem por caminhos distintos no que se refere a suas histórias, pois dessa forma ninguém precisaria ver o filme para ouvir o disco ou vice-versa. Então, no filme temos isso que você falou. No álbum em si, as músicas se concentraram em falar do poder da imaginação, das lembranças, do amor e das coisas belas da vida. É disso que falamos nele. 

O roteiro do filme veio depois?Tuomas: Sim. Foi o diretor do filme, Stobe Harju, quem surgiu com a idéia da história do velho compositor em um leito de morte. Ele já trabalha conosco há algum tempo e foi o responsável pelo videoclipe de The Islander. Nós o respeitamos muito e queríamos sua colaboração. Foi ele também que sugeriu que não preparássemos videoclipes ou curtas-metragens para cada música e sim um longa-metragem para o álbum todo. 

Vocês chegaram a trabalhar juntos ou ele concebeu a história por conta própria?Tuomas: O que ele fez foi pegar as minhas idéias e desenvolver a história desse velho compositor. Apesar de ter se embasado no que preparei, ele concebeu o roteiro por conta própria, sem nossa participação. 

A mudança temática entre Dark Passion Play e Imaginaerum e considerável.Tuomas: Os temas de Imaginaerum foram muito inspirados no que aconteceu na época em que fizemos Dark Passion Play. Aquele foi o álbum mais pesado e sombrio que já gravamos, sem dúvida alguma. Eu queria buscar o oposto daquilo agora. Não era minha vontade afundar em tudo aquilo novamente. Meu objetivo era focar e abordar as coisas boas da vida: o lindo mundo das imaginações e lembranças, o amor. É claro que tudo isso inclui um lado obscuro e melancólico, mas não da maneira como nós abordamos em Dark Passion Play. 

O que você acha que levou Dark Passion Play a soar tão pesado e sombrio?Tuomas: A música reflete o compositor e o Nightwish estava passando por um verdadeiro purgatório naquela época. Os conflitos e a saída da nossa ex-vocalista, toda aquela exposição que enfrentamos... Aquilo foi muito pesado para nós. Passamos por um período triste e difícil. Compor nesse estado de espírito só pode levar a uma coisa: um disco como Dark Passion Play. Imaginaerum também é um reflexo de nossa vida e estamos muito mais felizes e animados agora. 

Talvez como resultado disso vocês tenham chegado a algo que fica evidente no novo álbum: Anette Olzon está mais solta, cantando melhor.Tuomas: A mudança é realmente colossal. É uma das primeiras coisas que as pessoas observam quando escutam o novo álbum. Anette está levando seu vocal a outro patamar e sinceramente nem nós sabíamos que ela tinha alguns dos talentos que apresentou em Imaginaerum. É evidente que isso tem tudo a ver com o fato de ela estar mais relaxada e confiante com o seu lugar como vocalista do Nightwish. Anette nos contou que, na época que gravávamos Dark Passion Play, e mesmo depois, durante a turnê, ela passava o dia inteiro assustada e com medo. Ela temia não ser boa o suficiente e não agradar os fãs. Não há como se soltar em uma situação dessas. Então, somente após um disco bem-sucedido e uma ótima turnê é que ela pôde retomar a confiança e ser ela mesma. 

Quando vocês perceberam essa mudança?Tuomas: As coisas foram acontecendo aos poucos. No entanto, há um ano e meio, quando ela chegou para ensaiar o material novo conosco, foi inacreditável. Todos nós percebemos isso e comentamos com ela. Há também o fato de que as músicas de Imaginaerum foram todas preparadas já com o alcance vocal de Anette em mente e isso a deixou mais confortável. Contudo, penso que a grande razão para a mudança é o fato de ela estar mais confiante e tranqüila. 

Você afirmou certa vez que não haveria como Nightwish superar Dark Passion Play em termos de peso e obscuridade. Em quais aspectos, então, você acredita que Imaginaerum supera o penúltimo álbum?
Tuomas: Acho que o filme é um elemento a mais em Imaginaerum. Ele faz toda a diferença. Isso evidentemente teve influencia na sonoridade. Penso que dessa vez nós tivemos performances muito mais teatrais e dramáticas do que em Dark Passion Play. Certamente, o disco novo não é tão bombástico e explosivo quanto o anterior, mas tem uma expressividade bem peculiar e atraente. É mais vibrante e teatral. 

Muitos fãs têm destacado o novo álbum como um registro bem diferente dos demais lançamentos do Nightwish. Você também vê Imaginaerum dessa forma?Tuomas: Não acho que seja tão diferente assim de nossos lançamentos anteriores. Claro que há vários elementos novos nele: faixas como Slow, Love, Slow, as variações de estilos e temas, a performance teatral, mas penso também é possível os fãs detectarem nossos principais traços no decorrer do álbum. É Nightwish, soa como Nightwish. De qualquer forma, a principal razão para Imaginaerum se destacar um pouco do restante de nossa discografia é o fato de ele ser um disco composto por faixas preparadas para um filme e com um roteiro em mente. Ele é uma trilha sonora. 

Vocês mudaram o nome do disco algumas vezes, não? Qual era o titulo original desse novo álbum?Tuomas: Originalmente, o titulo era ‘Imaginarium’, com ‘i’. No entanto, fizemos uma pesquisa no Google e vimos que havia muita coisa com esse nome, o que geraria confusão para os fãs quando eles quisessem procurar por informações sobre o disco. Há uma empresa de publicidade, um museu na Flórida e muitas outras coisas já com o nome ‘imaginarium’. Por isso, decidimos por Imaginaerum. 

Além do lado cinematográfico sobre o qual conversamos, você citou grupos como Van Halen, Pantera, Paradise Lost e My Dying Bride como influencias para esse álbum. Fale-nos mais sobre isso.Tuomas: É difícil determinar onde há influencia de uma coisa e onde há influencia de outra em uma composição. A inspiração vem de várias fontes, estilos, artistas e lugares diferentes. Tudo que curtimos e que impacta nossa vida pode ser referencia na criação de um álbum. Uma música, um filme, um acontecimento, a natureza, qualquer coisa. Jamais paro, escuto um disco e falo: “Nossa, isso é incrível! Quero fazer algo parecido”. Geralmente, o que acontece é que eu começo a escrever uma música e aí, ao ouvir o que estou criando, percebo que há algo de Paradise Lost aqui e ali, assim como elementos de My Dying Bride ou Pantera em outras passagens. Como as bandas que você citou e essas que mencionei são todas muito importantes para mim, elas subconscientemente aparecem no material que crio. No entanto, nunca é proposital. 

Você ainda ouve essas bandas ou elas ficaram registradas como lembranças para você? Pensei que você escutasse mais trilhas sonoras atualmente.

Tuomas: Adoro ouvir música e escuto um pouco de tudo. Há duas noites, eu estava sentado perto do amplificador e decidi checar álbuns antigos do Enslaved e do My Dying Bride. Apesar de eu escutar mais trilhas sonoras atualmente, esse ‘metalhead’ adolescente que descrevo está muito vivo em mim ainda hoje. 

É importante você citar essas bandas, porque em alguns momentos eu tenho a impressão de que o Nightwish cresceu tanto e ficou tão grande no mundo da música que é tido praticamente como um grupo que não faz parte dessa cena mais exclusiva do Metal.Tuomas: Entendo o que você diz. Realmente isso ocorre, no entanto nós não vemos as coisas assim. Somos Influenciados por esses grupos. Posso lhe dizer com toda a segurança que o Nightwish talvez sequer existisse se não fosse por bandas como My Dying Bride e The 3rd And The Mortal, entre outras. Muitas coisas inacreditáveis aconteceram conosco e nos levaram a um lugar de grande destaque na cena. Há pessoas que dizem que criamos um novo estilo de Metal. Não sei se é isso, mas se for, fico orgulhoso. No entanto, achamos importante que todos saibam de nossas origens, de onde partimos e o que nos inspirou por todos esses anos. 

Citando Metallica, você disse que Scaretale é a Enter Sandman do Nightwish. Explique-nos essa comparação, se possível.
Tuomas: Quando comecei a compor Scaretale, decidi que seria uma música sobre pesadelos infantis. Então, Enter Sandman me veio imediatamente à mente e eu pensei: ‘OK, o Metallica fez isso antes de nós’. Porém, isso não importava. Esse é um tema universal e definitivamente nossa música soa diferente da deles. Além disso, a própria história e os personagens são diferentes. 

Falemos um pouco sobre o filme. Vocês aparecem no longa-metragem?Tuomas: O filme está sendo gravado no Canadá. Nós contratamos alguns atores profissionais que trabalham por lá para estrelarem o filme. Não aparecemos com destaque ou com falas no filme. Não há diálogos de qualquer espécie em nossa participação. Aliás, somos vistos em apenas dois momentos, e tocando. Isso era algo importante para nós. Eu não queria que aparecêssemos muito, porque estamos tentando desenvolver uma história e ressaltar a dramatização. Em meio a isso, não teria nada a ver colocar um monte de músicos tentando dar uma de atores. Nós não sabemos como fazer isso e ficaria ridículo. Somos músicos, não atores. 

Há material musical inédito no filme?Tuomas: Sim, mas isso será uma surpresa para as pessoas que forem assisti-lo. Haverá material inédito, mas incluiremos duas ou três músicas exatamente como elas aparecem no álbum. Os fãs poderão escutar também todas as faixas do disco em versões diferentes. Para isso, contratamos um cara que está fazendo uma trilha separada exclusivamente para o filme. São versões instrumentais, orquestrais e só com teclados das composições de Imaginaerum. 

Seus fãs esperam ansiosamente por um projeto que você anunciou certa vez de apresentações e de um álbum ao vivo com orquestra. A quantas anda essa idéia?Tuomas: Esse é um projeto que está sendo pensado há muitos anos, realmente. No entanto, tenho sérias duvidas de que seremos capazes de colocar isso em prática na atual turnê. Penso que não acontecerá agora. Tocar com uma orquestra ao vivo e gravar um álbum a partir disso é um sonho para nós. Tantos grupos já fizeram isso... Within Temptation, Opeth, Dimmu Borgir. Porém nós gostaríamos de trabalhar em algo diferente. Não posso falar por enquanto sobre o que tenho em mente, mas posso prometer que será algo especial e espetacular. 

Há também a idéia de gravar material acústico do Nightwish, não?Tuomas: Eu adoro os álbuns acústicos e isso é algo que eu realmente quero fazer com o Nightwish. Não sei ainda como e quando será, mas é possível que lancemos algo nesse formato e que saíamos em turnê com um show assim. Não acontecerá agora, mas está em nossos planos. 

Há quinze anos, o Nightwish lançava o Angels Fall First. Como você vê aquele álbum hoje?Tuomas: Decidi ouvir Angels Fall First novamente há umas três semanas, apenas por curiosidade. Eu não escutava esse álbum há dez anos. Ouvi-lo me fez sorrir, porque as músicas, a produção e as performances são apenas mais ou menos, entretanto, há excelentes atmosferas ali e amo a inocência daquele trabalho. Tudo era novidade para nós naquela época. Não fazíamos idéia de como funcionava o mercado musical, tampouco imaginávamos como era estar profissionalmente em uma banda. Fizemos algumas músicas, gravamos e pronto; foi só isso. Gosto muito de Angels Fall First; é um álbum puro e inocente. 

Em sua opinião, se Tarja Turunen, vocalista que esteve com vocês de Angels Fall First a Once, não tivesse saído do Nightwish, o que teria acontecido com a banda?Tuomas: Tudo seria possível. Talvez nós tivéssemos feito mais ou menos sucesso ou ido para lugares diferentes. Enfim, não sei. É uma questão que fica no ar e isso é uma das coisas belas da vida: o mistério e as questões que jamais conseguiremos responder. 

Ainda há mágoa e raiva em relação a Tarja Turunen ou vocês conseguiram se acertar de alguma forma?Tuomas: Não há mais qualquer tristeza ou mágoa. Não tenho raiva, também. Porém, não tive contato com ela nos últimos seis, sete anos. De qualquer forma, não há mais sentimentos negativos nisso. A vida é curta demais para guardarmos esse tipo de sentimento. De minha parte, isso tudo ficou para trás. Sigo em frente. 

Quais são os planos para a turnê? Podemos esperá-los no Brasil?Tuomas: Certamente que sim. Temos planos para vários shows no Brasil, obviamente. Queremos tocar na América do Sul em algum momento dessa nova turnê, que durará cerca de um ano. Os brasileiros são o melhor público para o qual já tocamos e esperamos vê-los novamente, cedo ou tarde. 
Desculpe a enfase na última frase, mas como um dos meus maiores sonhos é ir num show do nightwish, essa noticia me alegrou muito! XD

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Entrevista com Tuomas Holopainen


Nightwish.
Esquecendo os problemas com Tarja
Por Thiago Sarkis 

A primeira década do novo milênio reservou ao Nightwish os momentos mais extremos de sua carreira: entre a perturbação e o sucesso, o escândalo público e o reconhecimento artístico, o céu e o inferno. Nesse período, o grupo finlandês chegou ao topo do mundo com o álbum Once (2004) para pouco depois desabar com a conturbada e polemica saída de sua ex-vocalista, Tarja Turunen. O disco seguinte, Dark Passion Play (2007) – como não poderia deixar de ser –, além de apresentar a nova voz do conjunto, Anette Olzon, expôs, de forma sombria e pesada, as cicatrizes deixadas pela traumática separação seguida da alta exposição e pressão sobre os músicos. Apesar das vicissitudes, o trabalho conquistou os fãs, dando ao quinteto paz para criar o próximo registro de estúdio. Quatro anos depois, chega ao mercado Imaginaerum (2011), projeto audacioso de quase 8 milhões de reais de uma trilha sonora aliada a um filme idealizado por Tuomas Holopainen (teclados) e roteirizado pelo diretor de cinema e animação Stope Harju. Iniciando a turnê do mais recente álbum, Tuomas conversou conosco, deu mais detalhes do grandioso lançamento e do longa-metragem que está por vir, comentou Dark Passion Play e Angels Fall First (1997), falou dos planos futuros e garantiu: os problemas com Tarja são coisas do passado. 
A primeira coisa que me vem à cabeça quando ouço material novo do Nightwish é: ‘Isso deve ter dado trabalho’. Então, conte-nos como foi trabalhar em Imaginaerum.
Tuomas: (rindo) Certamente, dá muito trabalho compor e desenvolver o material do Nightwish. Comecei a me centrar em idéias para Imaginaerum em meados de 2007, logo após finalizarmos as gravações de Dark Passion Play. Já naquela época eu sabia que no próximo disco precisaríamos avançar um pouco e inovar. Não dava para repetir a fórmula daquele álbum. Então, logo de inicio pensei em transformar as músicas do registro seguinte em pequenos curtas-metragens, com roteiros bem definidos. Com esse objetivo firmado, escrevi treze pequenas histórias e compus a trilha sonora para cada uma dessas histórias. No entanto, na medida em que fomos trabalhando, decidimos fazer um longa-metragem ao invés dos curtas originalmente planejados. Não foi um processo difícil e problemático, mas houve obstáculos e demorou muito para ser finalizado. Ficamos em estúdio por dez meses e passamos cerca de noventa dias ensaiando tudo. 
Você sempre aparece como o principal compositor do Nightwish. No entanto, Imaginaerum chama a atenção por contar com ainda menos contribuições de seus companheiros de banda do que em registros anteriores. Por que isso ocorreu?
Tuomas: Realmente, quase todas as músicas desse álbum foram compostas por mim. Apenas a décima faixa, The Crow, The Owl And The Dove, teve colaboração do nosso baixista Marco Hietala. E na faixa titulo tive a ajuda de Pip Williams nos arranjos. De qualquer forma, a verdade é que durante o processo de composição eu cheguei a pedir músicas e idéias a meus companheiros de banda. No entanto, eles estavam exauridos. Nosso guitarrista, Emppu Vuorinen, por exemplo, me disse que não queria tocar guitarra por alguns meses e que não gostaria de escrever qualquer material para o novo álbum. Ele estava acabado após a turnê. Porém, foi só um momento. É totalmente possível que haja novamente mais participação deles em lançamentos futuros. Imaginaerum, no entanto, foi desse jeito. 

A falta de seus companheiros no processo de composição dificultou as coisas para você?

Tuomas: Não. Acho que foi até mais fácil. Tenho o costume de trabalhar sozinho e consigo desenvolver minhas idéias com tranqüilidade assim. É bom contar com a colaboração deles, mas quando isso não é possível, não vejo problemas. Felizmente, eles me parecem gostar muito da maioria das coisas que eu crio. Sempre há alguma discordância, mas lidamos com isso sem maiores dificuldades. O Nightwish é uma banda e todos são ouvidos aqui. Não lido com isso como se fosse o meu projeto solo, pois sei que eu jamais faria o que fazemos sem eles. Esses caras ensaiaram e trabalharam muito nessas músicas, ainda que não as tenham escrito. 

Por falar nisso, como você pensa que um álbum solo seu soaria? Muito diferente do Nightwish?
Tuomas: Não tive muito tempo para pensar nisso ainda, porque felizmente o Nightwish tem suprido todas as minhas ambições musicais até agora. Se eu quiser fazer uma música bem Metal, posso fazê-la com o Nightwish. Se eu optar por uma balada, também não encontrarei obstáculos dentro do nosso estilo. Um Jazz como Slow, Love, Slow, que vocês ouvem no novo álbum igualmente caí bem para nós. Então, não há motivação para eu seguir uma trajetória solo. De qualquer forma, penso que se um dia eu partir para uma carreira solo, definitivamente trabalharei com trilhas sonoras. 

Vocês decidiram gravar os instrumentos rítmicos separados da orquestra. Por que e como isso funcionou?
Tuomas: Acho que a idéia inicial de trabalharmos assim surgiu em decorrência dos custos do álbum. Dark Passion Play foi um álbum ridiculamente caro e tentamos economizar um pouco em Imaginaerum. Gravar os instrumentos rítmicos separados da orquestra possibilitou que gastássemos menos com estúdio. Marco e Emppu têm pequenos estúdios em suas casas e podem gravar suas partes por lá mesmo, sem que geremos custos adicionais ao Nightwish. É também mais relaxante e tranqüilo para eles dessa forma. 

Vocês tentaram economizar? Pensei que Imaginaerum tivesse sido infinitamente mais caro que Dark Passion Play, afinal, ele resultou em um álbum e um filme.
Tuomas: Imaginaerum acabou ficando um pouco mais barato que o disco anterior. Dark Passion Play nos custou 550 mil euros (N.R.: 1 milhão e 240 mil reais) e Imaginaerum fechou em 350 mil euros (N.R.: cerca de 790 mil reais). Então, conseguimos economizar um pouco no álbum para investirmos no filme. Porém, o longa-metragem nos custou o olho da cara. No total, gastamos cerca de 3 milhões e 500 mil euros (N.R.: aproximandamente 7 milhões e 900 mil reais), dos quais a banda pagou 1 milhão de euros (N.R.: mais ou menos 2 milhões e 260 mil reais). Enfim, você tem razão. Os dois lançamentos somados – o filme e o álbum Imaginaerum – são certamente o projeto mais caro no qual já trabalhamos. 

É um investimento elevado e que você mesmo classificou como de alto risco.
Tuomas: Com certeza, mas nós sempre assumimos esse tipo de risco. Vale a pena investir nisso, pois só assim podemos levar nossas idéias a cabo. Queríamos muito fazer esse filme e é claro que ele acabou se tornando um enorme risco financeiro para nós. No entanto, se você não acreditar em si mesmo e não seguir seus instintos, não poderá se orgulhar do que criou. Colocamos muito dinheiro nosso nisso, mas também não arriscamos tudo. Ninguém ficará sem teto caso as pessoas não assistam ao filme (risos). 

Há algum tempo atrás, li uma entrevista com Ewo Pohjola, empresário do Nightwish, em que ele falava que nutria uma expectativa particular de que o novo álbum da banda vendesse mais que Dark Passion Play. Como têm sido os resultados até agora?

Tuomas: O disco tem ido muito bem nas paradas de sucesso e está vendendo como esperávamos. No entanto, acho improvável que supere os números que alcançamos com Dark Passion Play. À medida que a tecnologia e a internet avançam, fica mais e mais difícil vender discos. Os downloads estão dominando o mercado musical. Apesar disso, nossos fãs, assim como os fãs de Metal em geral, são mais féis e gostam de ter o álbum com encarte, arte gráfica e letras nas mãos. Logo, mesmo com essa situação, ainda é possível vender uma boa quantidade de discos. 

Para onde você acha que vamos com essa situação dos downloads?
Tuomas: Acho que cada vez mais os lançamentos musicais ficarão concentrados na internet. Não adianta, o produto físico tem perdido espaço e nós simplesmente temos que nos acostumar com isso e encontrar novas saídas. Não dá para sentar em um canto e chorar porque a internet está acabando com o mercado da música como conhecíamos. É importante apenas que encontremos vias de garantir que quem trabalha com isso receba o pagamento pelo trabalho que fez. Só assim nós, músicos, podemos continuar fazendo álbuns. Acho, no entanto, que o CD não sobreviverá. Talvez ele se torne algo como o vinil, que hoje vende muito bem, por sinal. O DVD também não durará para sempre. 

Por falar em internet, parece que o Nightwish teve alguns problemas com a Amazon após a loja liberar trechos de Imaginaerum online antes do tempo programado por vocês para apresentarem o disco aos fãs. Como foi isso?
Tuomas: Estou sendo honesto com você... Ainda não sei exatamente como isso aconteceu. Recebi milhares de pedidos de desculpas deles dizendo que houve um mal-entendido e que eles tinham obtido uma informação de que não haveria problema se a Amazon colocasse o material online na data em que colocaram e blá-blá-blá. Não importa. O que sei é que fiquei muito chateado e a razão é simples: vínhamos trabalhando no álbum por quatro anos e aí, quando finalmente decidimos lançá-lo, estabelecemos uma data para isso e evidentemente esperávamos que as pessoas ouvissem o disco pela primeira vez na data em que programamos. Quando alguém libera esse material na internet antes da hora, acaba com o mistério e a expectativa que criamos. Isso nos incomoda muito. 

A história de Imaginaerum se concentra na vida de um compositor em seu leito de morte. O que fez com que você se envolvesse e trabalhasse com esse tema?
Tuomas: Há um aspecto curioso em Imaginaerum. De fato o filme é baseado nessa história, mas o disco não. O álbum é mais temático que conceitual e nós queríamos que cada um dos novos lançamentos seguisse um percurso. Queríamos que eles fossem por caminhos distintos no que se refere a suas histórias, pois dessa forma ninguém precisaria ver o filme para ouvir o disco ou vice-versa. Então, no filme temos isso que você falou. No álbum em si, as músicas se concentraram em falar do poder da imaginação, das lembranças, do amor e das coisas belas da vida. É disso que falamos nele. 

O roteiro do filme veio depois?Tuomas: Sim. Foi o diretor do filme, Stobe Harju, quem surgiu com a idéia da história do velho compositor em um leito de morte. Ele já trabalha conosco há algum tempo e foi o responsável pelo videoclipe de The Islander. Nós o respeitamos muito e queríamos sua colaboração. Foi ele também que sugeriu que não preparássemos videoclipes ou curtas-metragens para cada música e sim um longa-metragem para o álbum todo. 

Vocês chegaram a trabalhar juntos ou ele concebeu a história por conta própria?Tuomas: O que ele fez foi pegar as minhas idéias e desenvolver a história desse velho compositor. Apesar de ter se embasado no que preparei, ele concebeu o roteiro por conta própria, sem nossa participação. 

A mudança temática entre Dark Passion Play e Imaginaerum e considerável.Tuomas: Os temas de Imaginaerum foram muito inspirados no que aconteceu na época em que fizemos Dark Passion Play. Aquele foi o álbum mais pesado e sombrio que já gravamos, sem dúvida alguma. Eu queria buscar o oposto daquilo agora. Não era minha vontade afundar em tudo aquilo novamente. Meu objetivo era focar e abordar as coisas boas da vida: o lindo mundo das imaginações e lembranças, o amor. É claro que tudo isso inclui um lado obscuro e melancólico, mas não da maneira como nós abordamos em Dark Passion Play. 

O que você acha que levou Dark Passion Play a soar tão pesado e sombrio?Tuomas: A música reflete o compositor e o Nightwish estava passando por um verdadeiro purgatório naquela época. Os conflitos e a saída da nossa ex-vocalista, toda aquela exposição que enfrentamos... Aquilo foi muito pesado para nós. Passamos por um período triste e difícil. Compor nesse estado de espírito só pode levar a uma coisa: um disco como Dark Passion Play. Imaginaerum também é um reflexo de nossa vida e estamos muito mais felizes e animados agora. 

Talvez como resultado disso vocês tenham chegado a algo que fica evidente no novo álbum: Anette Olzon está mais solta, cantando melhor.Tuomas: A mudança é realmente colossal. É uma das primeiras coisas que as pessoas observam quando escutam o novo álbum. Anette está levando seu vocal a outro patamar e sinceramente nem nós sabíamos que ela tinha alguns dos talentos que apresentou em Imaginaerum. É evidente que isso tem tudo a ver com o fato de ela estar mais relaxada e confiante com o seu lugar como vocalista do Nightwish. Anette nos contou que, na época que gravávamos Dark Passion Play, e mesmo depois, durante a turnê, ela passava o dia inteiro assustada e com medo. Ela temia não ser boa o suficiente e não agradar os fãs. Não há como se soltar em uma situação dessas. Então, somente após um disco bem-sucedido e uma ótima turnê é que ela pôde retomar a confiança e ser ela mesma. 

Quando vocês perceberam essa mudança?Tuomas: As coisas foram acontecendo aos poucos. No entanto, há um ano e meio, quando ela chegou para ensaiar o material novo conosco, foi inacreditável. Todos nós percebemos isso e comentamos com ela. Há também o fato de que as músicas de Imaginaerum foram todas preparadas já com o alcance vocal de Anette em mente e isso a deixou mais confortável. Contudo, penso que a grande razão para a mudança é o fato de ela estar mais confiante e tranqüila. 

Você afirmou certa vez que não haveria como Nightwish superar Dark Passion Play em termos de peso e obscuridade. Em quais aspectos, então, você acredita que Imaginaerum supera o penúltimo álbum?
Tuomas: Acho que o filme é um elemento a mais em Imaginaerum. Ele faz toda a diferença. Isso evidentemente teve influencia na sonoridade. Penso que dessa vez nós tivemos performances muito mais teatrais e dramáticas do que em Dark Passion Play. Certamente, o disco novo não é tão bombástico e explosivo quanto o anterior, mas tem uma expressividade bem peculiar e atraente. É mais vibrante e teatral. 

Muitos fãs têm destacado o novo álbum como um registro bem diferente dos demais lançamentos do Nightwish. Você também vê Imaginaerum dessa forma?Tuomas: Não acho que seja tão diferente assim de nossos lançamentos anteriores. Claro que há vários elementos novos nele: faixas como Slow, Love, Slow, as variações de estilos e temas, a performance teatral, mas penso também é possível os fãs detectarem nossos principais traços no decorrer do álbum. É Nightwish, soa como Nightwish. De qualquer forma, a principal razão para Imaginaerum se destacar um pouco do restante de nossa discografia é o fato de ele ser um disco composto por faixas preparadas para um filme e com um roteiro em mente. Ele é uma trilha sonora. 

Vocês mudaram o nome do disco algumas vezes, não? Qual era o titulo original desse novo álbum?Tuomas: Originalmente, o titulo era ‘Imaginarium’, com ‘i’. No entanto, fizemos uma pesquisa no Google e vimos que havia muita coisa com esse nome, o que geraria confusão para os fãs quando eles quisessem procurar por informações sobre o disco. Há uma empresa de publicidade, um museu na Flórida e muitas outras coisas já com o nome ‘imaginarium’. Por isso, decidimos por Imaginaerum. 

Além do lado cinematográfico sobre o qual conversamos, você citou grupos como Van Halen, Pantera, Paradise Lost e My Dying Bride como influencias para esse álbum. Fale-nos mais sobre isso.Tuomas: É difícil determinar onde há influencia de uma coisa e onde há influencia de outra em uma composição. A inspiração vem de várias fontes, estilos, artistas e lugares diferentes. Tudo que curtimos e que impacta nossa vida pode ser referencia na criação de um álbum. Uma música, um filme, um acontecimento, a natureza, qualquer coisa. Jamais paro, escuto um disco e falo: “Nossa, isso é incrível! Quero fazer algo parecido”. Geralmente, o que acontece é que eu começo a escrever uma música e aí, ao ouvir o que estou criando, percebo que há algo de Paradise Lost aqui e ali, assim como elementos de My Dying Bride ou Pantera em outras passagens. Como as bandas que você citou e essas que mencionei são todas muito importantes para mim, elas subconscientemente aparecem no material que crio. No entanto, nunca é proposital. 

Você ainda ouve essas bandas ou elas ficaram registradas como lembranças para você? Pensei que você escutasse mais trilhas sonoras atualmente.

Tuomas: Adoro ouvir música e escuto um pouco de tudo. Há duas noites, eu estava sentado perto do amplificador e decidi checar álbuns antigos do Enslaved e do My Dying Bride. Apesar de eu escutar mais trilhas sonoras atualmente, esse ‘metalhead’ adolescente que descrevo está muito vivo em mim ainda hoje. 

É importante você citar essas bandas, porque em alguns momentos eu tenho a impressão de que o Nightwish cresceu tanto e ficou tão grande no mundo da música que é tido praticamente como um grupo que não faz parte dessa cena mais exclusiva do Metal.Tuomas: Entendo o que você diz. Realmente isso ocorre, no entanto nós não vemos as coisas assim. Somos Influenciados por esses grupos. Posso lhe dizer com toda a segurança que o Nightwish talvez sequer existisse se não fosse por bandas como My Dying Bride e The 3rd And The Mortal, entre outras. Muitas coisas inacreditáveis aconteceram conosco e nos levaram a um lugar de grande destaque na cena. Há pessoas que dizem que criamos um novo estilo de Metal. Não sei se é isso, mas se for, fico orgulhoso. No entanto, achamos importante que todos saibam de nossas origens, de onde partimos e o que nos inspirou por todos esses anos. 

Citando Metallica, você disse que Scaretale é a Enter Sandman do Nightwish. Explique-nos essa comparação, se possível.
Tuomas: Quando comecei a compor Scaretale, decidi que seria uma música sobre pesadelos infantis. Então, Enter Sandman me veio imediatamente à mente e eu pensei: ‘OK, o Metallica fez isso antes de nós’. Porém, isso não importava. Esse é um tema universal e definitivamente nossa música soa diferente da deles. Além disso, a própria história e os personagens são diferentes. 

Falemos um pouco sobre o filme. Vocês aparecem no longa-metragem?Tuomas: O filme está sendo gravado no Canadá. Nós contratamos alguns atores profissionais que trabalham por lá para estrelarem o filme. Não aparecemos com destaque ou com falas no filme. Não há diálogos de qualquer espécie em nossa participação. Aliás, somos vistos em apenas dois momentos, e tocando. Isso era algo importante para nós. Eu não queria que aparecêssemos muito, porque estamos tentando desenvolver uma história e ressaltar a dramatização. Em meio a isso, não teria nada a ver colocar um monte de músicos tentando dar uma de atores. Nós não sabemos como fazer isso e ficaria ridículo. Somos músicos, não atores. 

Há material musical inédito no filme?Tuomas: Sim, mas isso será uma surpresa para as pessoas que forem assisti-lo. Haverá material inédito, mas incluiremos duas ou três músicas exatamente como elas aparecem no álbum. Os fãs poderão escutar também todas as faixas do disco em versões diferentes. Para isso, contratamos um cara que está fazendo uma trilha separada exclusivamente para o filme. São versões instrumentais, orquestrais e só com teclados das composições de Imaginaerum. 

Seus fãs esperam ansiosamente por um projeto que você anunciou certa vez de apresentações e de um álbum ao vivo com orquestra. A quantas anda essa idéia?Tuomas: Esse é um projeto que está sendo pensado há muitos anos, realmente. No entanto, tenho sérias duvidas de que seremos capazes de colocar isso em prática na atual turnê. Penso que não acontecerá agora. Tocar com uma orquestra ao vivo e gravar um álbum a partir disso é um sonho para nós. Tantos grupos já fizeram isso... Within Temptation, Opeth, Dimmu Borgir. Porém nós gostaríamos de trabalhar em algo diferente. Não posso falar por enquanto sobre o que tenho em mente, mas posso prometer que será algo especial e espetacular. 

Há também a idéia de gravar material acústico do Nightwish, não?Tuomas: Eu adoro os álbuns acústicos e isso é algo que eu realmente quero fazer com o Nightwish. Não sei ainda como e quando será, mas é possível que lancemos algo nesse formato e que saíamos em turnê com um show assim. Não acontecerá agora, mas está em nossos planos. 

Há quinze anos, o Nightwish lançava o Angels Fall First. Como você vê aquele álbum hoje?Tuomas: Decidi ouvir Angels Fall First novamente há umas três semanas, apenas por curiosidade. Eu não escutava esse álbum há dez anos. Ouvi-lo me fez sorrir, porque as músicas, a produção e as performances são apenas mais ou menos, entretanto, há excelentes atmosferas ali e amo a inocência daquele trabalho. Tudo era novidade para nós naquela época. Não fazíamos idéia de como funcionava o mercado musical, tampouco imaginávamos como era estar profissionalmente em uma banda. Fizemos algumas músicas, gravamos e pronto; foi só isso. Gosto muito de Angels Fall First; é um álbum puro e inocente. 

Em sua opinião, se Tarja Turunen, vocalista que esteve com vocês de Angels Fall First a Once, não tivesse saído do Nightwish, o que teria acontecido com a banda?Tuomas: Tudo seria possível. Talvez nós tivéssemos feito mais ou menos sucesso ou ido para lugares diferentes. Enfim, não sei. É uma questão que fica no ar e isso é uma das coisas belas da vida: o mistério e as questões que jamais conseguiremos responder. 

Ainda há mágoa e raiva em relação a Tarja Turunen ou vocês conseguiram se acertar de alguma forma?Tuomas: Não há mais qualquer tristeza ou mágoa. Não tenho raiva, também. Porém, não tive contato com ela nos últimos seis, sete anos. De qualquer forma, não há mais sentimentos negativos nisso. A vida é curta demais para guardarmos esse tipo de sentimento. De minha parte, isso tudo ficou para trás. Sigo em frente. 

Quais são os planos para a turnê? Podemos esperá-los no Brasil?Tuomas: Certamente que sim. Temos planos para vários shows no Brasil, obviamente. Queremos tocar na América do Sul em algum momento dessa nova turnê, que durará cerca de um ano. Os brasileiros são o melhor público para o qual já tocamos e esperamos vê-los novamente, cedo ou tarde. 
Desculpe a enfase na última frase, mas como um dos meus maiores sonhos é ir num show do nightwish, essa noticia me alegrou muito! XD


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